diretoria

Era evidente o contraste entre as temperaturas do lado de fora e de dentro da sala do diretor. Uma simples magia mantinha a antiga sala um espaço muito agradável e difícil de ser abandonada naquela tórrida tarde de janeiro.

Péricles, o ministro da magia, havia ido ao educandário para levar a seu amigo Victor as novidades sobre os artefatos mágicos.

- Então quer dizer que foi melhor que a encomenda!!!... Eles ficaram sabendo que os artefatos estavam indo para Londres pouco antes da meia noite e aparataram desesperadamente atrás do avião... sem sucesso. - Victor sentia-se satisfeito com a notícia do fracasso de uma provável investida dos Fantasmas.

Péricles confirmou, também feliz, e lembrou que a missão bem sucedida foi coordenada por uma ex-aluna do Educandário. O relatório de tudo ainda estava sendo preparado, mas pareceu que a auror fez uso de alguns feitiços ilusórios e anti-aparatação para deixar os Fantasmas perdidos no meio do Atlântico Norte.

- Sabe, Péricles! São essas notícias que me fazem ver sentido nisto tudo... Saber que pelo menos algumas dessas crianças terá um futuro de valor...

O ministro concordou com um sorriso enquanto Victor levava a conversa para outro ponto.

- ... Agora, o que me preocupa é o destino de Iramohn... Não temos idéia de onde os Fantasmas estão escondidos... e meu temor é que esta onda de fracassos os levem a fazer alguma besteira com a velha tartaruga...

Após algumas ponderações sobre o assunto, Péricles colocou o serviço secreto de inteligência bruxa a disposição do assunto com a promessa das coisas estarem resolvidas ainda no primeiro semestre do ano.

Pudesse dar uma centena de explicações, mas o melhor a dizer que uma súbita crise depressiva e um forte saudosismo de sua terra natal deixaram Romano afastado dos festejos de fim de ano... Mas da mesma forma que veio, o mal se foi... abafado pelas altas temperaturas daquela estação, sua depressão evaporou deixando o jovem jacarandense com sua mente livre de preocupações.

Sim, estava realmente quente e ele já havia tentando, sem sucesso, um feitiço congela-qualquer-coisa para tentar se livrar do desconforto térmico... Desceu até a cozinha em busca de uma geladíssima e frígida jarra de água e quando retornava a seu microondas privativo, a qual chamava de quarto, sentiu uma agradável e suave brisa de inverno lamber seus tornozelos...

Foi automático... como se aquela brisa atasse seus membros inferiores e o arrasta-se... e assim Romano foi sendo levado até... a sala da diretoria.

Entrou na antesala e fechou com cuidado a porta para não fazer barulho... Não sabia direito porque fazia aquilo, mas estava fazendo... Oh, como era agradável aquele ar gelado, havia achado um oásis dentro daquele caldeirão fervilhante que havia se tornado a escola no verão... Sentiu que o ar gelado vinha de dentro da sala do diretor e, não se atrevendo a entrar, apenas pôs a mão na porta para sentir um pouco mais daquele agradável frescor... fechou os olhos para concentrar seus sentidos no tato, porém a audição chamou-lhe a atenção.

O diretor estava na sala, ouviu sua voz... seu coração deu uma pequena acelerada quase expulsando o frescor de sua pele... Havia mais alguém... Péricles!!!... ouviu o nome... Era o ministro, com certeza... falavam de uma missão... de uma ex-aluna... visualizou o rosto de sua ex-amiga, Viviane... e antes que pudesse pensar que deveria ligar para ela, o nome Iramohn o fez lembrar do livro que havia "pegado emprestado na biblioteca"...

Mais uma vez, seu pensamento rodopiou... do livro e da biblioteca lembrou da pavorosa cara do professor Ferraz e antes que fosse pego ali em mais um ato não tão lícito, digamos assim, decidiu que já tinha aproveitado por demais o clima de montanha da antesala da diretoria e era hora de voltar para o calor infernal da Torre Jacarandá.